Valeu, Gordo!

Mário Coutinho
2 min readAug 7, 2024

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Sou fã do Jô desde que me conheço por gente, eu era (ainda sou) uma criança notívaga e via o Jornal da Globo antes do programa e os desenhos que passavam depois, meus pais até tentavam corrigir, mas nunca deu certo.

Foi no programa do Jô que conheci o Mário Viaro, que viria a ser meu orientador na primeira iniciação científica. Assisti àquela entrevista e pensei “é isso que eu quero fazer.” O que era bem “aquilo”, eu não sabia dizer.

Era quase um ritual, assistia ao Jornal esperando o programa começar e acabava vendo as colunas do Nelson Motta e do Arnaldo Jabor (nunca gostei muito do Jabor comentarista, mas o comentarista me levou ao cineasta e vocês já percebem o tema aqui). Fui crescendo e o ritual foi mudando, e o Jornal da Globo se tornou parte dele, o programa começava e eu ficava vidrado na televisão como um aluno encantado.

No dia seguinte eu pesquisava aquilo que me chamou atenção, às vezes eu até anotava em um caderno. Lembro-me de uma entrevista com um tradutor do Hamlet, fiquei fascinado e fui atrás de uma tradução, achei a do Millôr Fernandes (outro amigo do Jô) e devorei aquilo. Hoje, mesmo sabendo de vários solilóquios de cor, ainda me impressiono com a sagacidade do Millôr traduzindo aquilo que é engraçado no original, por algo engraçado em português. Teatro funciona, ou não funciona.

E o Jazz? O que dizer do Jazz que se tornou meu gênero favorito? Conheci todos os standards pelo sexteto, com seus livros de memórias fui levado para um Rio e uma São Paulo que já não existem mais, um testemunho da cena cultural brasileira entre as décadas de 50 e 90. São tantas coisas e pessoas que descobri com ele, Bibi Ferreira, Giancarlo Giannini, Jacques Brel, John Kennedy Toole, Pessoa…

O Jô acabou se tornando uma espécie de amigo, só ele que não sabia. Um tempo atrás resolvi mudar isso, consegui o número dele e liguei sob um pretexto qualquer, para o meu desespero ele atendeu. Fiquei super nervoso porque não esperava aquilo, ele sacou e começou a conversar, contei tudo isso que disse aqui e agradeci a ele pela companhia, recebi um “muito obrigado, querido. Muito obrigado mesmo pelo carinho.” Marquei, gravei, tatuei essas palavras no meu coração.

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Hoje mais uma vez: muito obrigado, José Eugênio.

Essa semana faz dois anos que ele se foi, desenterrei esse textinho das minhas coisas, nós nos vemos em 2098.

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Mário Coutinho

Bacharel em Letras e Mestrando em Arqueologia pela Universidade de São Paulo, Vim aqui dar opiniões que ninguém pediu, mas também atendo a pedidos. @mariuscout